ALHEIRA

Atualmente muito espalhadas por Portugal, as alheiras mais conhecidas são as de Mirandela, em Trás-os-montes, sendo consideradas uma das 7 Maravilhas Gastronômicas de Portugal. A origem desta tradicional iguaria remonta aos finais do séc. XV e inícios do séc. XVI. Na região transmontana, existia uma grande comunidade de judeus, provenientes do reino de Castela, donde tinham sido expulsos em 1492. Perseguidos pela Inquisição e facilmente reconhecidos por algumas das suas tradições, entre as quais a recusa em ingerir carne de porco (por imposição da sua fé) que era base da alimentação da época, criaram a alheira (chouriço judeu). Imaginaram um enchido, que, embora semelhante aos enchidos dessa época e que eram o prato forte das gentes, não levasse a carne proibida, mas de forma a não serem facilmente identificados pela inquisição devido aos seus hábitos alimentares diferentes. Decidiram então utilizar carnes de aves (reforçando o tempero com bastante alho, para disfarçar os cheiros e sabores das carnes) envolvendo-as numa massa de pão. Assim, com estes enchidos visivelmente colocados nos fumeiros tradicionais, de recheio bem temperado, que simulava na perfeição a carne de porco, os cristãos novos, ou marranos como eram conhecidos, conseguiram ludibriar os fiscais da Inquisição e os seus vizinhos sempre prontos a denunciar quem não cumprisse as leis estabelecidas pela Igreja Católica. Com o consumo de alheiras, podiam comprovar a sua adesão à religião cristã, mostrando que já não seguiam as leis judaicas que impunham o não consumo de carne de porco. Rapidamente as gentes da região de Trás-os-montes adotaram estes enchidos de origem judaica, mas colocando no seu recheio a verdadeira carne de porco, tornando-se posteriormente num dos símbolos representativos da gastronomia regional.